Há exatos 43 anos, o Brasil — pobre Brasil — mergulhava, pela torpeza de seus Generais, em uma noite que duraria 21 anos. No Brasil dos Generais grassou a mentira; a tortura; o desrespeito constante e sistemático aos mais básicos princípios jurídicos, como os direitos e garantias fundamentais, tudo em nome da manutenção de uma Revolução que visava apenas, no frigir dos ovos, garantir e alavancar os privilégios de uma classe dominante cada vez mais abastarda.
Na noite de ontem, coincidentemente, assistimos perplexos a outros militares, talvez saudosos dos idos de 64, exarcebarem a crise aérea que teve início no trágico acidente da Gol, levando à paralisia completa todos os aeroportos brasileiros.
A esses controladores de vôo — que apenas conseguem olhar para o seu próprio umbigo — caberia apenas o direito de serem exemplarmente punidos pela Justiça Militar, visto que o motim e a insubordinação praticados por eles são crimes devidamente tipificados na legislação específica a qual se submetem. O mais grave, porém, foi ver o Presidente da República solapar a vigência do Estado Democrático e Constitucional de Direito ao impedir que o Comando da Aeronáutica prendesse os responsáveis por tal movimento; prisões que haviam sido autorizadas, diga-se de passagem, pelo Superior Tribunal Militar.
Por si só, a irresponsável atitude de interferir nas legítimas decisões de um Poder autônomo da República é crime de responsabilidade (Inc. II, art. 85, Constituição Federal/1988), e poderia levar ao Impeachment do sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Somos reféns não dos controladores de tráfego aéreo, como ingenuamente cheguei a pensar, mas de um governo fraco; inépto; incapaz — fazendo jus às mais arraigadas tradições petistas — de decidir o que quer que seja e comandado por um Presidente da República titubiante e cujo principal objetivo parece ser não se comprometer com nada nem ninguém e estar sempre bem na foto.
Estamos, meus caros, chocando o ovo da serpente que, ao eclodir, nos levará ou ao radicalismo de direita, coma história se repetindo como ópera bufa; ou ao populismo Chavista de esquerda. Em ambas as situações, os grandes perdedores seremos todos nós.
Por isso, nunca é demais lembrarmos a lúcida e necessária advertência de Norberto Bobbio:
“…De boa vontade deixo para os fanáticos, ou seja, para aqueles que desejam a catástrofe, e para os insensatos, ou seja, para aqueles que pensam que no fim tudo se acomoda, o prazer de serem otimistas. O pessimismo hoje, seja-me permitida mais esta expressão impolítica, é um dever civil. Um dever civil porque só um pessimismo radical da razão pode despertar com uma sacudidela aqueles que, de um lado ou de outro, mostram que ainda não se deram conta de que o sono da razão gera monstros”.
Norberto Bobbio: “O dever de sermos pessimistas”, in: As ideologias e o poder em crise. Brasília: UnB, 4a. ed., 1999, p. 181.